CATEQUESE POÉTICA

CATEQUESE POÉTICA

Catequese Poética
 
Lindolf Bell foi o responsável pela Catequese Poética, um movimento de divulgação da poesia junto aos mais diversos públicos, utilizando-se dos meios de comunicação menos tradicionais. 
 
Iniciada em 1964, foi a Catequese que projetou Bell para todo o país, mobilizando outros artistas, desenvolvendo uma nova linguagem poética e ampliando a intervenção social de jovens escritores. 
 
A Catequese Poética é considerada um marco tanto na cultura popular brasileira como na literatura. A partir de Lindolf Bell a poesia assumiu sua função transformadora do tempo, do homem e da sociedade.
 
A Catequese obteve respaldo popular que ressoou nos sentimentos e nas aspirações do homem, adquirindo uma característica temporal e de reciclagem a cada nova geração. 
 
Esta chama, acesa na década de 1960, incorporou novos personagens e assumiu expressões particulares em cada canto que se manifestou. No início, o palco era a praça, pois dali extrai-se o pedestre de seu rumo anônimo e indeterminado, reavivando sua condição de homem e cidadão. Como prova desta identidade humana, anos depois Milton Nascimento passou a cantar “o artista tem que ir aonde o povo está”.
 
Bell consagrou-se com o Movimento, que tirou a poesia das gavetas, tornando-a mais acessível, através de apresentações, declamações, conferências e debates. Transformou viadutos, praças, boates e estádios em veículos da poesia, com a participação de outros artistas e poetas. Ele seguiu o impulso da ruptura para cantar poemas em praça pública. Os movimentos de arte de rua nasceram de sua coragem.
 
O poeta dedicou-se à sua catequese poética pelo país e exterior, incentivando a poesia declamada em praça pública. Como disse Paulo Leminski: “Nunca tinha visto ninguém dizer poemas tão bem, com tanta intensidade, tanta garra, tanto domínio de voz, do gesto e do sentido. A Catequese de Bell, a vanguarda da palavra dita, é um tempo forte dessa efervescência”.
 
É a partir de Lindolf Bell que a poesia catarinense recuperou o teor de originalidade, legado por Cruz e Souza, e passou a sugerir algo novo. Não ditava normas para o fazer literário, nem restringia o campo de ação do poeta. Opunha-se a algumas teorias estéticas das vanguardas de 1950 e 1960, pois era necessário a permanência do vínculo entre o poeta e o seu poema. Exigia do poeta a divulgação direta com o público, pois assim tornava-se um intermediário vivo entre o poema e o seu consumidor.
 
A Catequese Poética possibilitou a agregação de poetas das mais variadas tendências a participarem do Movimento: Rubens Jardim, Luiz Carlos Mattos, Iracy Gentilli, Reni Cardoso, Érico Max Muller, Marli Medalha, Milton Eric Nepomuceno, entre outros, num convívio sem conflitos estéticos. Estes ingredientes favoreceram os efeitos acústicos e o ritmo, como a repetição e a reiteração.
 
 
Lindolf Bell ficou reconhecido no eixo Rio-São Paulo como o poeta que encantava quando recitava seus poemas. Começou a estampar diversos epigramas em camisetas, permanecendo assim fiel ao espírito irrequieto e sempre provocador que o identificou ao longo dos anos. Foi brindado na época como o “melhor poeta que interpretou o coração e os anseios da juventude”, “aquele que canta a geração das crianças perdidas” ou até um prosaico “a coqueluche da juventude paulista”. 
 
A Catequese Poética teve menção em diversos eventos. Foi lembrada e comemorada em diversos lugares, entre eles estão: 
 
- Festival Cultural de Inverno (uma homenagem aos 30 anos da Catequese Poética), em julho de 1994, em Blumenau; 
 
- Exposição Iconográfica dos 30 anos de Catequese Poética (exposição itinerante que passou por Florianópolis, Blumenau, Joinville, São Paulo, Rio de Janeiro, Timbó e outras) apoio cultural do BADESC e curadoria de Dennis Radünz;
 
- Prêmio Othon d’Eça (na passagem dos 30 anos do movimento de catequese), como Escritor do Ano de 1994.

 

“Até agora Bell é alvo de trinta anos de tecituras, no descuido de procurar a palavra, mas sabendo que é a palavra que o procura e o encontra, quando e onde quiser. A palavra procura palavra antes do poeta. Por estar enterrado na palavra há trinta anos, a palavra sabe como falar Bell. Ela o fala em catequeses poéticas, em códigos de águas, em incorporações. Ela o fala mais pós-modernamente, em corpoemas, ecopoemas e papéis-carta. A palavra engendra o poeta inexoravelmente. Bell reconhece que estamos - todos, poetas e leigos - enterrados na palavra que nos expele ao prazer das suas veleidades lingüísticas. E se conforma com este jugo, bendizendo que “amadureço na palavra que amadurece. Catequese Poética é essa década multiplicada por três de amadurecimento poético de Lindolf Bell ."

Comentário de José Endoença Martins sobre Bell e os 30 anos de sua Catequese.